Revista Emergência
Por Rafael Turri
Nova tecnologia minimiza tempo de instalação e problemas ligados à rede de chuveiros automáticos
A crescente preocupação na preservação de patrimônios públicos e privados somados ao aumento do rigor da legislação e da fiscalização de instalações de redes de combate a incêndio tem proporcionado o surgimento de novas tecnologias, em geral importadas, destinadas a instalações de tubulações de chuveiros automáticos (sprinklers). Este artigo se dedica a trazer um vislumbre geral sobre a tecnologia de compressão radial e um comparativo técnico, destacando os pontos positivos e negativos em relação às tecnologias
convencionais disponíveis no mercado brasileiro.
DESCRIÇÃO
Esta nova tecnologia difere dos processos convencionais de solda, rosca, acoplamento ranhurado, e termoplásticos de CPVC disponíveis no mercado brasileiro para a instalação de redes de chuveiros automáticos. O sistema de compressão radial consiste na utilização de tubos e conexões fabricados em aço ao carbono, porém com aspectos técnicos bem específicos. São tubos de precisão galvanizados interna e externamente com uma camada de zinco, produzida por um processo chamado Sendzimir. As conexões são igualmente fabricadas em aço ao carbono galvanizadas a quente com uma camada de zinco. Este conjunto fabricado em aço ao carbono, se destina a instalações de redes de chuveiros automáticos do tipo “molhado” (Wet pipe). Para instalações do tipo “seca” (Dry pipe) e para outros tipos de aplicação, existe a possibilidade de utilizar esta mesma tecnologia, mas desta vez, com o conjunto tubo e conexão fabricados em aço inoxidável.
A grande diferença desta tecnologia reside em dois pontos: (I) Utilização de um alicate de compressão automático para a junção dos tubos e conexões; (II) A vedação entre os componentes corre a partir de anéis O-ring, localizados nas extremidades das conexões, que proporcionam vedação mesmo em pressões muito superiores às exigidas no ensaio de estanqueidade da norma ABNT NBR 10.897 que é de, no mínimo, 1.350 kPa. A utilização de um alicate de compressão automático, transfere a responsabilidade pela estanqueidade das junções, do instalador, para uma ferramenta mecânica. A aplicação desta tecnologia tende a minimizar as falhas inerentes à mão de obra, por outro lado cria uma preocupação com calibração e manutenção de ferramental. Tubos e conexões de compressão radial são utilizados há décadas na Europa. Em meados de 2008, surgiram as primeiras certificações destinadas ao uso em redes de combate a incêndio por chuveiros automáticos na Alemanha. Uma vez executada a junção entre tubo e conexão, não é necessária a manutenção dos anéis O-ring. Estes anéis são fabricados em borracha EPDM (Etileno-propileno-dieno) e possuem um tempo de vida estimado em 50 anos.
Os tubos e conexões estão disponíveis nos diâmetros de 28, 35, 42 e 54 mm o que equivale à 1”, 1 ¼”, 1 ½” e 2”, respectivamente. Estes são os diâmetros mais encontrados na instalação de ramais de redes de sprinklers, onde o produto é mais utilizado. Adicionalmente, alguns sistemas possuem tubulações de até 4”.
NORMALIZAÇÃO
Ao utilizar tecnologias de compressão radial é importante estar atento aos aspectos normativos, pois os produtos pertencentes a esta tecnologia, disponíveis hoje no mercado não possuem uma normativa de aplicação específica. Sendo assim, como é possível utilizá-los em redes de chuveiros automáticos? A norma de instalação ABNT NBR 10897 especifica o seguinte em seu escopo: “Esta norma não tem a intenção de restringir o
desenvolvimento ou a utilização de novas tecnologias ou medidas alternativas, desde que estas não diminuam o nível de segurança proporcionado pelos sistemas de proteção contra incêndio por chuveiros automáticos, nem eliminem ou reduzam os requisitos nela estabelecidos”. Sistemas de tubos e conexões de compressão radial se aplicam exatamente
no quesito de novas tecnologias estabelecido no texto.
Adicionalmente, os itens 5.3.5 e 5.5.1, letra (h), da norma ABNT NBR 10897, devem ser estritamente observados. Em suma, estes itens destacam que outros tipos de materiais para tubos e conexões podem ser utilizados, “desde que comprovadamente testados por laboratórios de entidades ou instituições de reconhecida competência técnica”. Este ponto especificado pela norma só pode ser plenamente atendido por meio da apresentação de evidências de testes e ensaios
de conformidade. Uma das ferramentas de comprovação, como destaca o texto normativo, é a apresentação de certificados de órgãos de reconhecida competência técnica.
Neste quesito, o consumidor deverá estar atento às evidências apresentadas pelo distribuidor da tecnologia de tubos e conexões com terminais de compressão. As principais certificações encontradas para esta tecnologia no mercado são: (I) FM Global; (II) UL; (III) VdS – Alemanha; e (IV) LPCB – Reino Unido. A apresentação de evidência de certificação
é uma garantia para o consumidor de que os produtos aplicados em redes de chuveiros automáticos são destinados a este fim e que foram exaustivamente testados para a aplicação. Algumas destas certificações incluem ensaios de exposição ao fogo em escala real, onde a tubulação é exposta, em um determinado período de tempo, a temperaturas da
ordem de 900 °C, não podendo apresentar vazamentos.
COMPARATIVO
A tecnologia de compressão radial tem maior aplicação nos ramais da rede de sprinklers, ou seja, nos diâmetros iguais ou inferiores a 2”. Este ponto, muitas vezes, pode ser considerado como uma desvantagem, pois, na maioria dos casos, não é possível executar uma instalação completa neste sistema, sendo necessário um “mix” de tecnologias, como por exemplo, compressão radial + sistema ranhurado, ou compressão radial + solda, o que é muito comum na Europa, berço da tecnologia de compressão radial. Por este motivo, fica claro que este material não tende a substituir ou competir com as tecnologias de conexões ranhuradas ou mesmo com o sistema de solda, e sim com o sistema polimérico fabricado em CPVC e também com tubos e conexões roscados.
Em comparação com as tecnologias que utilizam tubos e conexões fabricados em CPVC, o sistema de compressão radial apresenta mais segurança na estanqueidade das junções, uma vez que união entre as partes é feita com uma ferramenta automática, como foi destacado anteriormente. Porém, cabe ressaltar que a mão de obra brasileira é tradicionalmente treinada para a execução de soldas frias com adesivos poliméricos, uma herança do PVC destinado a instalações de água e esgoto. Por mais tecnológicas que as ferramentas de compressão radial possam ser, elas não fazem as instalações “sozinhas”, ou seja, existe grande necessidade de treinamento das equipes de instaladores para a aplicação desta nova tecnologia.
Em comparação com as tradicionais conexões roscadas, a grande vantagem
do sistema de compressão radial é a agilidade da instalação. Nota-se que há uma redução de 70% no tempo absoluto de montagem para os tubos e conexões de compressão radial, quando comparadas à instalação do sistema roscado convencional. O uso desta tecnologia
minimiza o procedimento de abertura de roscas nas extremidades dos tubos. Conexões roscadas são utilizadas apenas para a instalação do chuveiro automático para eventual transição com outro sistema, como o sistema ranhurado, ou para ligação com outro componente da rede de sprinkler, como válvulas, por exemplo. Em contrapartida, o sistema
de compressão radial é mais caro que o sistema roscado. Dependendo do projeto, a variação pode ser de 30% até 50% em valores absolutos de custo de matéria-prima.
Fica claro que a aplicação desta tecnologia carece de atenção por parte do consumidor. O produto só apresenta vantagem na sua aplicação quando se calcula a composição entre custo de matéria-prima e mão de obra. Para uma equipe de instaladores treinados, que já venceram a curva de aprendizagem desta nova tecnologia, a redução no custo geral é da ordem de 20%.
Além da redução do tempo de instalação e aumento da produtividade das equipes de instaladores, outros pontos merecem atenção, como, por exemplo, a não necessidade de pintura das tubulações, uma vez que que estas já possuem uma proteção contra corrosão advinda da cobertura galvânica de zinco. Este ponto está em conformidade com a instrução da norma ABNT NBR 10897 no item 5.1.4 que estabelece os requisitos de identificação para tubulações de sprinklers. Porém, os tubos e conexões com terminais de compressão podem receber pintura, caso a instalação demande esta necessidade, conforme o exemplo de instalação neste artigo (ver foto na primeira página). Outras vantagens relacionam-se com a segurança proporcionada pelo produto uma vez que ele é mais leve e possui um procedimento de instalação mais limpo que os sistemas convencionais.
Mas os sistemas de compressão radial não possuem apenas vantagens, alguns pontos que merecem a atenção dos instaladores são a falta de intercambiabilidade
entre fabricantes, o que significa que não é possível adquirir o tubo de um fabricante “x” e as conexões de um fabricante “y”. Outro ponto desfavorável é que o Brasil ainda não produz este tipo de tubulação galvanizada pelo processo Sendzimir, ou seja, os materiais são, em
geral, importados da Europa.
APLICAÇÃO
O sistema de compressão radial pode ser aplicado em qualquer instalação de redes de chuveiros automáticos “sprinklers”, porém, a sua aplicação tem se mostrado especialmente interessante em reformas prediais. Quando se trata, por exemplo, da adequação de uma faculdade, hospital, galpão logístico, etc., que se encontram em funcionamento e não existe a possibilidade das atividades serem interrompidas para a instalação da rede de combate a incêndio, o produto se mostra vantajoso, devido às já citadas características de agilidade, limpeza, leveza e não necessidade de pintura. Em um ambiente cada vez mais competitivo, poder oferecer uma tecnologia mais rápida e precisa pode ser um diferencial para empresas instaladoras de redes de chuveiros automáticos “sprinklers”. A tecnologia de compressão radial tem se mostrado como uma excelente alternativa para empresas que buscam este tipo de posicionamento.