Revista Incêndio
Por Mariana Junqueira
Grupos como a ABSpk (Associação Brasileira de Sprinklers), o CB-24 (CB-24 – Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio) e a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) desenvolvem um trabalho muito importante para a sociedade. O CB-24, por exemplo, na elaboração dos projetos de normas brasileiras para sistemas de combate a incêndio por chuveiros automáticos; e a ABSpk, com a divulgação do sistema de sprinkler como uma das soluções mais eficientes para controle e supressão de incêndios.
Porém, se pararmos para pensar no quanto cresceram as instalações de sistemas de proteção por sprinklers no Brasil ao longo dos últimos dez anos e compararmos com a quantidade de profissionais especializados e interessados neste assunto no mercado, atualmente, a conta não vai fechar.
Em novembro de 2014, tivemos o 1° CBSpk 2014 (Congresso Brasileiro de Sprinklers), organizado pela ABSpk, que foi um sucesso de público e de conteúdo. A maioria dos participantes eram os associados da entidade com suas equipes. Também tivemos representantes dos Corpos de Bombeiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná e Santa Catarina, além de alguns projetistas, instaladores e clientes finais. Mas, minha impressão é de que as pessoas que estavam no Congresso eram “as mesmas de
sempre”. Os profissionais naturalmente interessados em se manter atualizados, seja por meio das reuniões da comissão de estudos do CB-24, ou dos treinamentos e palestras promovidas por fabricantes, entidades e seguradoras. Isso me deixa preocupada, pois, com o aumento na demanda por projetos e obras de sistemas de sprinklers, com certeza, há maior quantidade de prestadores de serviços nesta área. Sabemos que não temos um curso de especialização no Brasil. E, com isso, eis a pergunta que não quer calar: Onde estão e quem são estas pessoas? Como elas estão sendo capacitadas para este tipo de projeto/obra? Qual a qualidade desses projetos e instalações, se a capacitação é tão precária?
Pensando na grande quantidade de novos projetistas e instaladores, e na demanda
por sistemas de sprinklers que tende a crescer nos próximos anos, estou convencida
da importância de termos normas técnicas de qualidade desenvolvidas no Brasil, mesmo que baseadas em normas já consagradas internacionalmente. O processo de discutir, depurar e chegar a um texto final que seja adequado para nossas condições é
muito importante. E é fundamental que os profissionais da área, tantos os experientes
quanto os jovens, participem desse debate.
Uma norma é uma forma acordada e repetível de se fazer algo. É um documento
que contém especificações técnicas, ou outros critérios precisos, desenvolvidos para
serem utilizados como regra, diretriz ou definição. Elas tornam a nossa vida mais
simples e aumentam a confiabilidade e a efetividade de muitos produtos e serviços
que usamos. O mais importante é que as normas são o resultado de um trabalho
coletivo, criadas a partir de um conjunto de experiências e conhecimentos de todas
as partes interessadas.
Todo projeto de sprinklers deve estar calçado em uma norma de instalação. A única norma brasileira de instalação atualizada é a ABNT NBR 10897 – que estabelece os requisitos mínimos para o projeto e a instalação de sistemas de proteção contra incêndio por chuveiros automáticos – utilizada para sistemas de sprinklers de uso geral, exceto depósitos. A norma de proteção de depósitos, ABNT NBR 13792, está obsoleta e se encontra em revisão, atualmente. E quando partimos para casos específicos – como casas de bombas, armazéns refrigerados e aerossóis, entre outros – temos que usar as normas internacionais.
Por este motivo, é comum a utilização de normas estrangeiras pelos projetistas no
Brasil. Nossa referência para o desenvolvimento de projetos é o conjunto de normas da NFPA (National Fire Protection Assossiation). Acredito que a NFPA 13 e NFPA 20 sejam as mais utilizadas. Em casos mais específicos e, geralmente, a pedido das seguradoras, também são utilizadas as normas da companhia de seguros FM Global.
Se levarmos em consideração a quantidade de novos projetistas e instaladores
de sistemas de sprinklers, necessitamos com urgência de normas desenvolvidas no Brasil. Assim, acredito, será possível diminuir os erros de projeto cometidos muitas vezes pela interpretação errada da norma.
Algo interessante que acontece em todas as reuniões do Comitê de Sprinklers da ABNT, que se reúne todos os meses no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em São Paulo, é que os mais jovens aprendem com o pessoal mais experiente, e vice-versa. Às vezes, há várias interpretações para um mesmo parágrafo porque, realmente, cada um entende de um jeito. E é nessa hora que vemos a importância da participação no grupo para que exista uma discussão e se chegue a um consenso.
A partir do momento que tivermos um conjunto de normas brasileiras, todos os estados poderão utilizar as mesmas referências, inclusive, o Corpo de Bombeiros, o que tornará o trabalho de todos – projetistas, instaladores, fornecedores, bombeiros e seguradoras – mais fácil e uniforme, resultando em maior qualidade e menores custos para o consumidor final.
Voltemos ao papel da Comissão de Estudos de Chuveiros Automáticos (sprinklers), que é um braço do subcomitê de Proteção Ativa Contra Incêndio do CB-24, um dos comitês Técnicos da ABNT, que é responsável por elaborar projetos de normas, ou seja, desenvolver os textos das novas e revisar as existentes para que sejam mantidas atualizadas.
Uma Comissão de Estudos é formada por três grupos de interesse distintos, com o objetivo de equilibrar o resultado do texto final: o grupo de Produtores, que representa o mercado e é composto, principalmente, por fabricantes e distribuidores de produtos; o grupo dos Neutros, formado por empresas que não têm interesse econômico direto na venda dos produtos tratados pela norma. Nesse grupo, estão as seguradoras, Corpo de Bombeiros, laboratórios de testes, sindicatos etc. O último grupo é o dos Consumidores, que são usuários do objeto da norma. São empresas que utilizam sistemas de sprinklers, além de projetistas e instaladores que não têm uma relação formal com os fabricantes e distribuidores.
Para que uma norma seja publicada, pelo menos uma pessoa de cada um destes grupos tem que participar efetivamente das reuniões. Portanto, convido a todos para fazerem parte dessa equipe, principalmente, os usuários das normas que são os projetistas, instaladores, responsáveis por análise de projeto do Corpo de Bombeiros e seguradoras.
É muito importante a participação de representantes de Corpos de Bombeiros, que possuem experiências práticas e vivem situações reais, conhecimento muito importante para quem está projetando.
A participação dos projetistas também é fundamental, pois são os que relatam as situações práticas mais incomuns. Em muitas destas, o que está escrito na norma não pode ser aplicado na prática. Isso vale também para os instaladores que, muitas vezes, recebem um projeto perfeito, aprovado pelo Corpo de Bombeiro, pela seguradora e pelo cliente. Mas, quando vão instalar, por exemplo, percebem uma eletrocalha que não estava no projeto, ou um duto de ar condicionado com altura diferente do descrito. Por falta de conhecimento, o que eles fazem é simplesmente mudar o projeto, “instalando um pouquinho mais pra lá”.
É isso que vai fazer a diferença na hora de um incêndio real.
Uma linha de sprinkler obstruída ou um retardo no seu acionamento por não respeitar a altura de instalação podem comprometer a eficácia do sistema. Casos assim acontecem todos os dias e vão continuar acontecendo. O importante é saber identificá-los e encontrar a melhor solução, o que sabemos que, algumas vezes, é muito difícil. Mais ainda, enquanto não houver uma norma nacional. Ao propor um conjunto de normas brasileiras, visamos atender diversos objetivos:
◗ Manter ciclos de revisões curtos, o que já vem acontecendo com a NBR 10.897, que foi revisada em 2007 e teve uma nova publicação em 2014;
◗ Atender a uma necessidade real que, no caso das normas internacionais, tratam de assuntos que não condizem com a nossa realidade; ter aplicação prática, isto é, ser implementável;
◗ Ter conteúdos que contemplem vários impactados e consensuais, para gerar benefícios e não entraves. Daí a importância do envolvimento do maior número de pessoas ligadas ao temas. Isso se fará naturalmente com a participação de todos os interessados, uma vez que os temas são amplamente discutidos nas reuniões e concluídos com a aceitação da maioria;
◗ Não inibir o desenvolvimento tecnológico, o que é muito importante, uma vez que as normas são revisadas a cada três anos (NFPA). Nesse período, se um fabricante lança um produto novo, testado e certificado para uma situação específica que não está na norma atual, ele terá que aguardar até a próxima revisão de norma para comercializá-lo? Não, novas tecnologias poderão ser utilizadas, desde que o fabricante forneça um catálogo técnico com todas as informações de critérios de projeto e critérios de instalação.
E o que nós podemos fazer para que mais pessoas tenham acesso aos assuntos relacionados aos sistemas de sprinklers? Penso que temos várias soluções. Uma delas, seria o incentivo da ABSpk e de outras entidades para que os associados se comprometam a enviar um representante de Engenharia para participar das reuniões do CB-24. Outra opção pode ser descentralizar as reuniões, que hoje são feitas em São Paulo, para outras regiões ou Estados. Também temos a Internet, na qual podemos enviar a convocação das reuniões, não somente para aqueles que participam mensalmente, mas colocar no site da ABSpk e de veículos especializados. Ficam as sugestões e o convite para participar conosco do CB-24.