Revista Emergência
Outubro/2018
Rede de Sprinklers
Escrito por associado: Allan Lourenço Lucas
Um dos maiores entraves na aplicação do sistema de tubos e conexões de compressão radial é a impossibilidade de reaproveitar as conexões que já foram montadas. Isto se torna crítico em obras onde é necessário a realização de um ensaio de estanqueidade antes da montagem do forro de gesso. Diante disto, o presente artigo apresenta uma possível solução para o problema, a partir da utilização de conexões de engate rápido.
A tecnologia de tubos e conexões com terminais de compressão radial já foi apresentada em artigos anteriores, mas para aqueles que ainda não tiveram contato com este tipo de material destinado a instalação de redes de chuveiros automáticos, sprinklers, segue uma breve descrição. Este produto consiste de tubos e conexões fabricados em aço ao carbono com proteção contra corrosão interna e externa por uma película de zinco. A junção entre os componentes, tubo e extremidade da conexão, é executada com o auxílio de um alicate hidráulico. Trata-se de um sistema utilizado há muitos anos na Europa e que começou a ser encontrado no Brasil desde 2013.
Neste tipo de tecnologia a estanqueidade, ou seja, resistência a vazamento do conjunto, é proporcionada pelas conexões que possuem anéis de vedação (O-Ring) nas extremidades que receberão a compressão por meio do alicate. Mas, para que esta estanqueidade seja plenamente obtida é preciso que o procedimento de instalação do produto seja seguido à risca, principalmente nas etapas de corte dos tubos e remoção das rebarbas provenientes do corte, que podem vir a danificar os anéis de vedação.
A vantagem neste tipo de tecnologia é a agilidade do processo de instalação que permite reduções de tempo de até 70%, quando comparada à tecnologia convencional de conexões roscadas, na qual a extremidade dos tubos é usinada, a fim de receber um terminal de rosca fêmea. Porém, uma desvantagem crucial na utilização deste produto em instalações de redes de sprinklers é que, após ser executada a compressão em uma conexão, esta não pode mais ser desmontada. Por exemplo, se por algum motivo o instalador cometeu um engano e fez a montagem de um “cotovelo ou joelho”, ao invés de montar uma derivação tipo “tê”, esta conexão se perdeu.
Este fator é crítico também na manutenção ou na eventual ampliação da rede de sprinklers, pois as conexões que já foram “crimpadas”, como é conhecido usualmente o processo de montagem por compressão radial, não podem ser reaproveitadas. Mas isto não é fator impeditivo para a utilização do produto, uma vez que existe a possibilidade de se aplicar uniões roscadas, que permitem a montagem e desmontagem de trechos da instalação, assim como ocorre no sistema convencional de aço ao carbono. Adicionalmente, é importante salientar que intervenções e manutenções como esta são raras em redes bem projetadas.
SOLUÇÃO
Dada esta introdução, vamos ao problema apresentado no início do artigo e sua possível solução. Uma vez que conexões com terminais de compressão radial não podem ser reaproveitados depois de montados ou “crimpadas”, sua utilização constitui um grande desafio em obras, ao qual não se conhece previamente a altura do forro. Na maioria das instalações de sprinklers em shoppings ou prédios de escritórios, a tubulação fica posicionada acima do forro, que em geral é fabricado em gesso ou material de desempenho semelhante. Para evitar retrabalho desnecessário e oneroso dos profissionais da instalação do forro, os ensaios de estanqueidade da rede de sprinklers são executados antes da sua montagem. Desta maneira quaisquer vazamentos, por menor que sejam, são identificados e sanados previamente. Para que o ensaio de estanqueidade possa ser executado corretamente, segundo os critérios estabelecidos pela norma ABNT NBR 10.897 – Proteção contra incêndio por chuveiro automático, todas as extremidades devem estar devidamente tamponadas e vedadas. A pressão de teste estabelecida pela norma é de, no mínimo, 1.350 kPa.
Como explicado anteriormente, uma vez que é difícil determinar com precisão a altura do forro das edificações, em geral as empresas instaladoras de redes de sprinklers deixam um trecho maior de tubo à disposição para a montagem posterior do bico de sprinkler. Este trecho de tubo e conexão é conhecido, no Estado de São Paulo, como “caneta”. Terminada a execução do ensaio de estanqueidade, o forro é devidamente instalado. Com o forro pronto, a equipe de instalação da rede de chuveiros automáticos retorna à edificação e termina a instalação, reduzindo o trecho excessivo de tubo, que foi deixado de propósito anteriormente, e instalando o bico de sprinkler e seu acabamento para realização dos testes finais.
É neste contexto que o uso das conexões de compressão radial se torna desvantajoso e muito caro. Imagine, por exemplo, uma instalação que possua aproximadamente mil bicos de sprinklers, algo que é muito comum. Neste caso, seria necessário utilizar o dobro de conectores de compressão radial para realizar as duas fases do ensaio de estanqueidade, antes e após a instalação do forro. Esta situação, sem dúvida,inviabiliza a aplicação do produto.
Para resolver este problema uma possível solução é a aplicação de conexões de engate rápido, tipo tampão.
Estes conectores são fabricados geralmente em latão e possuem uma norma brasileira de aplicação, a ABNT NBR 15.978 – Conexões de cobre e ligas de cobre com terminais de engate rápido para união de tubos, de 2011. Esta norma prevê a aplicação deste tipo de conexão em transições entre os seguintes materiais: Cobre, CPVC, PEX, PPR, e Aços ao carbono. A Figura 1 apresenta um desenho esquemático de uma conexão de engate rápido.
A grande vantagem da aplicação desta conexão é que não é necessária a aplicação de nenhuma ferramenta específica, ou seja, as conexões são montadas manualmente e são desmontadas com o auxílio de um alicate de metal ou um simples “clip” de plástico.
Este tipo de conexão vem sendo aplicada com sucesso, não somente em instalações de redes de sprinklers, mas também na interligação de coletores solares e instalações hidráulicas de água quente ou fria. Além disto, a utilização e o procedimento de montagem deste tipo de conexão são muito simples, devendo respeitar os seguintes passos: cortar os tubos a 90º, em relação ao eixo principal, utilizando ferramentas apropriadas para que não ocorra nenhum desvio de perpendicularidade em relação ao tubo. Utilize, preferencialmente, a ferramenta chamada corta a frio, ela tende a ter mais estabilidade e precisão durante o corte de tubos; remover as rebarbas internas e externas da tubulação cortada, para que quando a conexão for inserida, o anel de vedação não seja danificado ou que haja acomodação de cavaco entre o tubo e a conexão; deslizar a conexão por meio do tubo, fazendo um leve movimento rotacional, em relação ao eixo principal do tubo, de modo que o encaixe seja facilitado; para a desmontagem, deve-se posicionar o clip ou o alicate de desmontagem de acordo com o diâmetro nominal da conexão ao redor do tubo, encostando-o na entrada da conexão e pressionando contra a guia de nylon da conexão de engate rápido com uma das mãos, enquanto a outra mão puxa o tubo para fora da conexão.
Na Foto 1 está descrito o procedimento de montagem e desmontagem das conexões de engate rápido para tubos cobre. Vale lembrar que o procedimento para tubos de aço galvanizado ou para tubos poliméricos é o mesmo.
Um ponto importante com respeito à aplicação das conexões de engate rápido é que elas se tornam uma ferramenta para o instalador, uma vez que podem ser reaproveitadas para a execução de diversos ensaios de estanqueidade. A Foto 2 mostra, na prática, como uma conexão de engate rápido pode ser aplicada na extremidade de um tubo de aço galvanizado.
Após a execução do ensaio de estanqueidade e definição da altura ideal do forro a conexão de engate rápido é removida e então o conector específico para a montagem do bico de sprinkler pode ser montado como mostra a Foto 3.
Como vimos, a aplicação de conexões de engate rápido é uma solução possível para evitar o desperdício de conexões de compressão. Sua instalação prática e rápida chama atenção, mas é preciso destacar que este produto possui preço absoluto mais elevado que as tecnologias convencionais disponíveis no mercado. A análise de viabilidade econômica é indispensável em qualquer projeto, mas é ainda mais importante quando se procura implementar uma nova tecnologia ou um novo produto.
Em resumo, o número de tecnologias de materiais destinados a instalação de redes de sprinklers e de redes hidráulicas em geral, vem crescendo a cada dia. Cabe aos instaladores e projetistas estarem bem informados sobre quais produtos e soluções podem ser aplicadas com sucesso.